quarta-feira, 7 de novembro de 2012

De que matéria é feita a memória


 
A memória é feita de tempos e espaços, muitos acontecimentos e lugares. Sobre um lugar, ou acontecimento, podemos guardar em nós um universo de lembranças, sensações e sentimentos. É assim que construímos uma memória individual e uma visão do mundo. Se à nossa juntamos a riqueza de outras, sobre um mesmo lugar e acontecimento, nasce uma combinação que poderemos considerar memória colectiva.
No Barreiro ferroviário existem muitos lugares onde se registaram múltiplos acontecimentos. É sobre eles que pousa o nosso olhar, com o qual questionamos o tempo.
A memória ferroviária foi tecida em quotidianos de dificuldades e privações de natureza vária, sentidos na pele por homens, mulheres e crianças, famílias inteiras que foram chegando ao Barreiro.

Forjou-se na aguda consciência política e social dos ferroviários, em duras lutas e protestos, em diferentes momentos ao longo do último século e meio. Muitos desses homens, em nome da liberdade e por acreditarem nos seus ideais, pagaram com anos de prisão e deportação. Alguns nunca mais puderam voltar ao Barreiro. A memória ferroviária manifesta-se, ainda, no património construído, através dos bairros ferroviários e nos demais edifícios espalhados pelo concelho, especialmente o significativo conjunto de infra-estruturas oficinais. Nasceu do conhecimento partilhado, em antigas bibliotecas associativas, grupos musicais, de teatro e desporto e emerge, em especial, de um saber e conhecimento tecnológico, capital precioso, acumulado por gerações de técnicos e operários ferroviários, especializados em múltiplas e distintas profissões. Deu origem a um fenómeno histórico complexo, que hoje denominamos cultura ferroviária.De modo tão impressivo que,  há mais de 150 anos, constitui um dos traços mais genuínos da identidade do Barreiro. 
Foto: Espólio José António Marques, Arquivo Municipal do Barreiro


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